“(...) Coração do outro é uma terra que ninguém pisa. Minha mãe repetia essa oração quando recebia a visita de muda melancolia. Meu coração estava pisado pelo amor, e só eu sabia. Era um caminhar manso como pata de gato traiçoeiro. Fugia do meu amor para todas as penumbras. Seis minutos eram suficientes para a saudade me transbordar. Fui, desde pequeno, contra matar a saudade. Saudade é sentimento que a gente cultiva com o regador para preservar o cheiro de terra encharcada. É bom deixá-la florescer, vê-la brotar como cachos de tomates, desde que permaneçam verdes e longe da faca afiada. Nada tem mais açúcar que um tomate verde. (...)”
Hoje está fazendo cinco anos que, depois de cinqüenta e três anos juntos, nos separamos. Tem horas que acho que isso é tempo demais. E logo me dou conta de que tudo parece ter sido ontem. Não. Não falo do tempo juntos, falo desses cinco anos agora.
Há dias venho pensando muito em você, nas coisas que nos falamos, no seu jeito simples mas especial de ser, no seu dom de fazer amizades... Coisas da saudade, eu sei. Ah, lembra-se de quando eu pensava em você com um pouco mais de percepção, e logo vinha a confirmação de que você também estava pensando em mim, me chamando pra perto de você? É. A gente ria disso, não? Era muito bom... e inesquecível!
Olha, como diz o autor aí do texto, coração da gente é terra que ninguém entra mesmo; toda vez que a saudade de você me envolve, pego o violão e, sozinho na sala, dedilho aquela canção instrumental que escrevi especial pra você com muito amor. E ninguém em casa percebe esse instante, exceto eu e meu coração. Melhor assim, acho. Ficamos só nós dois, né?
Domingo você não me saía da cabeça, e até imaginei que daí também pensava em mim, e talvez até tivesse alguma coisa pra me dizer. Isso ainda é coisa daquela força que sempre nos uniu, não? Então fiquei a tarde toda ouvindo as muitas canções de Vicente Celestino que eu sei você mais gostava: Patativa, Luar do sertão, Coração materno, Rasguei o teu retrato, O ébrio, Noite cheia de estrelas e tantas outras, que ouvi e reouvi por diversas vezes, sem me cansar.
Mas foi em Ouvindo-te, daquele elepê que você tinha, que a saudade arrochou mais. Consegui até ver você pelo quintal, na sua cozinha, de aventalzinho, cantando-a lindamente, no mesmo soprano só seu, com aqueles seus hábeis floreados na voz, tal qual Gilda de Abreu, mulher de Vicente.
Hoje está fazendo cinco anos que, depois de cinqüenta e três anos juntos, nos separamos. Tem horas que acho que isso é tempo demais. E logo me dou conta de que tudo parece ter sido ontem. Não. Não falo do tempo juntos, falo desses cinco anos agora.
Há dias venho pensando muito em você, nas coisas que nos falamos, no seu jeito simples mas especial de ser, no seu dom de fazer amizades... Coisas da saudade, eu sei. Ah, lembra-se de quando eu pensava em você com um pouco mais de percepção, e logo vinha a confirmação de que você também estava pensando em mim, me chamando pra perto de você? É. A gente ria disso, não? Era muito bom... e inesquecível!
Olha, como diz o autor aí do texto, coração da gente é terra que ninguém entra mesmo; toda vez que a saudade de você me envolve, pego o violão e, sozinho na sala, dedilho aquela canção instrumental que escrevi especial pra você com muito amor. E ninguém em casa percebe esse instante, exceto eu e meu coração. Melhor assim, acho. Ficamos só nós dois, né?
Domingo você não me saía da cabeça, e até imaginei que daí também pensava em mim, e talvez até tivesse alguma coisa pra me dizer. Isso ainda é coisa daquela força que sempre nos uniu, não? Então fiquei a tarde toda ouvindo as muitas canções de Vicente Celestino que eu sei você mais gostava: Patativa, Luar do sertão, Coração materno, Rasguei o teu retrato, O ébrio, Noite cheia de estrelas e tantas outras, que ouvi e reouvi por diversas vezes, sem me cansar.
Mas foi em Ouvindo-te, daquele elepê que você tinha, que a saudade arrochou mais. Consegui até ver você pelo quintal, na sua cozinha, de aventalzinho, cantando-a lindamente, no mesmo soprano só seu, com aqueles seus hábeis floreados na voz, tal qual Gilda de Abreu, mulher de Vicente.
Pode parecer estranho, mas a tarde do domingo assim, ouvindo o que você ouvia e cantava, deixou-me leve, foi uma saudade gostosa, daquela de até te sentir aqui perto de mim.
...e eu tenho certeza de que VOCÊ ESTAVA PERTO DE MIM naquele instante, Mãe, porque a senti!
...e eu tenho certeza de que VOCÊ ESTAVA PERTO DE MIM naquele instante, Mãe, porque a senti!
A sua bênção, Mãe, com muito mais saudade hoje.
De seu filho sempre caçula, Zuza.
Beijos eternos...
Fonte do excerto: livro Vermelho Amargo, do escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós. São Paulo : Edit. Cosac Naify, 2011, p. 44.
Que lindas lembranças!!! expressas através de lindas palavras, meu caro amigo.
ResponderExcluirE saudades como diz o texto não é para matar, mas sim para reviver.
Abs
Olá, José Roberto!
ResponderExcluirQue emocionante! Saudade escapulida suavemente do coração, em forma de oração. Mãe nos traz o elemento amor que depois de implantado no nosso peito se constitui no leme de nossa vida.
Um abraço, amigo.
Balestra. Essa homenagem me emocionou. Com certeza sua mãe já a leu e está sempre perto de você. Amores assim são eternos e vêm de outras vidas. Vocês dois são espíritos afins e com certeza estarão juntos novamente em outras vidas. Sei o que é essa dor, pois minha única filha partiu para o Mundo Espiritual há 5 anos atrás. E é como você disse: parece que foi ontem. Para esses sentimentos o tempo é insignificante. Saudade é o amor que fica. Grande abraço.
ResponderExcluirS a u d a d e palavra doce....:o)
ResponderExcluirLinda mensagem!
ResponderExcluirq lindo!!
ResponderExcluircom certeza ela estava sm, pertinho!!
bjoo