Pela cara mal lavrada do sujeito, cachimbo no canto
da boca e pasta debaixo do braço viram logo que era cobrador do fisco.
Reberaldo Carijó saiu em pé de paina e foi botar o trombone na rua:
– Tem cobrador de impostos na praça. Vi quando
retirou da maleta um ferrinho contaminado de dentes, coisa de lascar a popa do
povinho que não puder arcar com a responsabilidade das pagas. É bom avisar o
Major Nequinho Rosa. Ninguém para lidar com o povo do governo como Nequinho
Rosa.
Em pronto momento, por um moleque de recados,
Nequinho foi avisado. Pelo que já desceu dos confortos de sua invernada
soltando azeites. Mais armado do que ele nem uma guerra. Hospedou sua vasta
pessoa no Hotel das Famílias. E foi assim, deitado na cama, de botas e esporas,
que mandou chamar o cobrador de impostos:
– Quero ter
um particular com esse sujeitinho.
Meio murcho, adernado sobre a pasta negra, chegou
para ver o Major Nequinho Rosa refestelado na cama e de charuto na boca. Quis
tomar cadeira no que foi impedido pelo dedão de palmeira do major:
– Em minhas
presenças ninguém senta o rabo para falar. É de pé, sujeitinho! De pé!
Intimou ele que o homenzinho abrisse a pasta de modo
a desembuchar de sua entranha o tal ferrinho de marcar gente e mais o bolão de
multas recaídas no cangote do educado povo de Pipeiras de Santana:
– Abra essa
desgraça, esse ninho de lacraia.
O sujeitinho abriu. E da pasta preta, em lugar de
arrogantes papéis do governo e ferrinhos de carimbar popa de cristão, saiu um
derrame de giletes. O homem era caixeiro-viajante.
Os aparelhos de fazer barba davam entrada, pela
primeira vez, na brava e progressista cidade de Pipeiras de Santana...
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Escritor contista e romancista, advogado e jornalista,
sua obra mais conhecida é o romance “O Coronel e o Lobisomem” (1965), vencedor
dos Prêmios: Jabuti, da Câmara
Brasileira do Livro; Coelho Neto, da
Academia Brasileira de Letras; Luisa Cláudio
de Sousa, do Pen Club do Brasil.