SEM POEMA
(JRB)*
Foi num dia d’fim d’inverno, ou quase.
Ermo era o lugar, sem frutas nem corrupixel,
A pequena poetisa, certa d’inspiração,
Sentou-se à relva com lápis macio e papel,
Enlevada que estava pela força da criação.

Queria a belez’a dum poema d’amor, uma frase.
Pacient’esperou, dos céus, a candente faísca,
Enquanto isso riscava idéias e traçados.
Numa grosa d’folhas, dando tanta risca,
Notou a poetisa: a inspiração havia lh’escapado.
Vexada, sem versos, vazia feit’uma brecha,

Como que sob algemas, sem cor pra seu poema,
A poetisa pequena s’irou pela falta d’enredo.
Veio lh’um Anjo Alado, d’arco e flecha:
– “Você ainda é pequena! Certas coisas tem emblema;
Só faz poemas d’amor quem não está azedo..."
Só faz poemas d’amor quem não está azedo..."
*autor: josé roberto balestra/nov/2010
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