“QUANDO AS SOMBRAS AMEAÇAM O CAMINHO, A LUZ É MAIS PRECIOSA E MAIS PURA."

(Espírito Emmanuel, in "Paulo e Estêvão", romance por ele ditado a Chico Xavier)

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domingo, 16 de agosto de 2009

Da Essência e da Existência: uma linha tênue entre o Importante e o Essencial



No Blog do Óbvio, do blogamigo Manoel, deparei-me com uma pérola de pensamento de Luzia Santiago – a quem ainda não conheço –, que transcrevo a seguir e que provocou esta minha reflexão:

Um coração puro sempre vê além das aparências, e nós precisamos desta visão larga para distinguir o importante do essencial, porque muitas coisas são importantes, mas poucas são essenciais”.

O que à primeira vista parece ser uma simples frase, em verdade traz uma bela advertência aos olhares descuidados da vida, tolhidos que estão pelas lutas diárias. Efetivamente carecemos da pureza d’um olhar extramuros para alcançarmos outras expressões mais finas da vida neste brevíssimo Plano. Nada justifica os desvios acerca dessa consciência.

Há momentos que, sem percebermos, somos repentinamente Convocados para distinções tais como as da sutil frase. Comigo não raro se dá isso. Conto uma.

Certo dia de 2007, salvo engano, estava eu sozinho em meu escritório de advocacia, garimpando nas leis e doutrinas soluções para meus clientes, e eis que, sem mais nem menos, um indomável Alento interior mandou-me sobrestar o serviço! É claro, obedeci!

Recostei relaxadamente na cadeira, olhei as coisas sobre a mesa, os processos de meus clientes, os livros mirando-me da estante, os códigos abertos ali ao meu alcance, o relógio lá na parede branca, mostrando o tempo indo manso, mas velozmente.

E então, eis que num insight me Chegou totalmente pronta – e num zás anotei por cima duma petição que fazia – a seguinte circunspecção acerca de Paraíso & Destino, aos quais atribuímos nossos episódicos sucessos ou fracassos na vida:

"Se o desindiviso paraíso é para poucos, e puro,
o luciferino destino é para muitos profundo, e escuro,
como o fundo e o fosso do poço,
raso sem água nem tamp'embaixo, no fundo."



Escrita a frase na tela, fiquei olhando pr’aquilo atônito! Comecei a ler, reler e treler; com vagar, fui auscultando o que cada signo daquele poderia estar trazendo de preleção, significados ou até algum eventual enigma pra minha vida naquele instante. A custos fatiei tudo, a meu modo e mão. E concluí:

- Primeira fatia:

- que por “desindiviso” entender-se-ia um plano espiritual, sem limite unidimensional nem demarcações de medidas convencionais;

- que o “luciferino” nada tem a ver com o Anjo decaído de que fala o Livro Santo, mas sim está no sentido substantivo de luminosidade, de claridade.

- Segunda fatia: - o que fomos cristãmente doutrinados a conceber seja o Paraíso, é um abstrato mas bonito lugar, ao qual apenas poucos, os PUROS de coração que conseguem discernir Essência de existência e imprescindível de acessório, vivem suas delícias aqui mesmo neste Plano; não é preciso Partir pra que isso dê. Que, paradoxalmente, não tendo contornos o Paraíso, sua amplitude é desindivisa; as formas várias de nossas malícias e brejeirices humanas é que nos afastam do seu âmago, do perene e verd'esperança de seus campos.

Destarte, quando entramos nalguma crise espiritual, ou mesmo estamos diante d’um sucesso material inesperado – um prêmio de loteria, por exemplo –, os atribuímos logo como obra do Destino, outro ente abstrato que funcionaria como um automóvel sem motorista e nós como passageiros... Ledo engano; o destino é claríssimo, luciferino. Seu motorista somos nós!


O profundo e o escuro do Destino estão apenas no sombrio dos olhares desatentos, tal qual quando miramos o interior dum poço que, por negr'escuro seu interior, falsamente o tomamos por profundo e infinito, sem água nem tampa embaixo... no fundo. Outro faceiro engano... A tampa é o fundo no escuro; a água sempre está só um pouco mais abaixo.

Portanto, quando estremamos as coisas – como diz Luzia – é que conseguimos graduá-las por sua ordem de necessidade.
Do essencial é que assoma o importante, nunca o avesso...

Comentário d'A BALESTRA: Parabéns à Luzia Santiago pela sabedoria na bela frase, e ao Manoel, do Blog do Óbvio, que me deu conhecimento da pérola que me inspirou aqui.

Imagem: by WEB