Quem me lê aqui no blog certamente já percebeu: tenho manifesto gosto pelos mistérios da língua portuguesa, apesar de não possuir formação acadêmica em Letras, mas em Direito.
Já o disse antes: devo o prazer pelas letras à minha venturosa "Academia-base", o saudoso Externato Nísia Floresta, das lições vindas das “Imortais” Mestras, Dª Alba Dantas Montenegro e a poeta Roza de Oliveira, as quais, por uma dessas coisas do destino, são filhas de chãos cariocas, onde estão assentadas as colunas do ateneu-mor pátrio: a ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS.
Pensar, pesquisar, ponderar, e depois registrar isso em textos tem sentido especial para mim. Talvez seja uma espécie de luta perpétua contra a morte... Afinal, todo escritor é um pouco rebelde ao prazo concedido pelo Creador. Como se isso adiantasse. Mas não custa insistir...
Pois bem. Autodidata em Letras, para minhas pesquisas sirvo-me de dicionários de sinônimos e antônimos, lingüísticos, nacionais ou estrangeiros, obras técnicas, críticas literárias e de literatura, estas na maioria de autores nacionais; imprescindível cantar as coisas nossas, tão invejadas lá fora por suas singularidades, embora a isso poucos daqui se atenham ou estimem, e uns até as menoscabem.
Até 2008, por absoluto prazer na lida com o papel físico, houvera eu “destruído” alguns Aurélios (a foto aí ao lado é de um deles), tantos os manuseios dezenamente diários, e as prazerosas respostas. Mas a inclemência do tempo fez-me ceder (em parte!): instalei um Aurelião virtual em meu computador.
Fugindo da pecha de ser “homem de um dicionário só”, como se diria, comprei um “Dicionário Houaiss da língua portuguesa”, recomendado pela ABL, instalando o cedê que o acompanha, sem fugir à leitura integral do seu prefácio ou do histórico do sonho de seu saudoso idealizador, o filólogo Antônio Houaiss, admirável!
Desde então passei a fazer minhas consultas duplicadamente; no Aurelião e no Houaiss. Mas dia desses, para meu maior encantamento léxico, um amigo instalou em minha máquina um “Aulete digital”. Agora, faço o cotejo dos termos pesquisados no meu “Trio Léxico”.
Todavia, essa disciplina pessoal conduziu-me a uma respeitosa, porém, triste constatação: enquanto os demais dicionários registram antigos e também novos vocábulos da fala nacional, o Houaiss, e que inclusive traz a importante datação de criação dos termos, por outro lado tem extirpado muitos, de antigo uso, mas históricos, que fazem parte de reconhecidas obras literárias nacionais, e que enriqueceram sobremaneira a língua portuguesa em seus momentos próprios, até mesmo dando origem a outros depois.
Ao contrário do entendimento que é descuidadamente corrente, os termos, as expressões e seus significados, não saem dos dicionários para a fala do povo, mas é exatamente o contrário: da boca, do uso e da criatividade dos indivíduos é que é formado e enriquecido o léxico pátrio.
Portanto, quando na minha condição de músico, por exemplo, estudo os versos de uma canção antiga - “NOITE DE ESTRELAS” (1932), de Candido das Neves, gravada por Vicente Celestino - e neles vejo o vocábulo substantivo feminino “FALENAS” (lepidópteros: ordem de insetos que reúne as borboletas e as mariposas) e daí, em consulta ao HOUAISS noto que não o cita, entretanto é encontrado no AURÉLIO e no AULETE DIGITAL, com efeito, reverentemente ao incansável trabalho da equipe do filólogo Antônio Houaiss, não posso deixar de expressar minha preocupação pela supressão de vocábulos menos usados ou de usos antigos, justamente num dicionário indicado pela guardiã da língua portuguesa no país, a ABL.
Creio que seja tempo de rever-se essa injustiça vernacular, sob pena de em breve nos tornarmos uma NAÇÃO LINGUISTICAMENTE INDIGENTE!
Imagem: by arquivo pessoal de jrb
Pois é, amigo, esses dias terminei de ler o livro Vindima do Miguel Torga, que minha nora trouxe de Portugal para mim (teve que rodar Lisboa para achar a preciosidade). Achou-o trancado num armário da livraria e o vendedor disse que só abriria se ela se comprometesse de comprar, isso após dar o preço assustador. Como foi o único que encontrou, comprou. Valeu, é claro, Miguel Torga me encanta e o livro é fantástico. Mas eu quero chegar ao seu texto: fiquei pasma (e preocupada) com a quantidade de palavras no livro que nunca vi ou ouvi. Há trechos que nem pelo sentido, eu consegui decifrar o significado do vocábulo. E como eram muitas, fiquei com preguiça de ir ao dicionário. Pensei: que aconteceu com essas palavras da nossa língua? Descobri então que elas se perdem, desaparecem... A língua empobrece. Poderia se fundar o museu das palavras para que, pelo menos, não se extinguirem.
ResponderExcluirj`votei aí, ontem e hoje. Tomara que vença... Abraços.
Adoro palavras, palavras, frases, mais palavras ...
ResponderExcluirBalestra. O seu gosto pela língua portuguesa aparece na sua escrita original, poética e correta. Dá gosto de ler as suas palavras. Amei o dicionário. Vê-se que foi muitíssimo usado. Beijos e obrigada por sua amizade.
ResponderExcluirÉ bom fazer justiça ao dicionário. Pesquisar nele é estar no mundo, e com muita gente, igual e diferente da gente. Sua postagem fez-me lembrar disso.
ResponderExcluirAbs.
Caro Balestra, você está coberto de razão ao defender a perpetuidade das palavras de uma Língua. A única observação é em relação ao tamanho e preço dos dicionários além do "peso" das Editoras. digo isso porque você encontra os mini os midi e os maxi dicionários. Porém você sabe que a maioria dos autores dos dicionários já morreram e os auxiliares e herdeiros que dão continuidade na obra nem sempre tem o mesmo esmero na reedição do material. Porém, devemos sim, patrulhar a perpetuidade das palavras de uma Língua, até mesmo, porque se nasce uma palavra nova similar que agrada ou que se torna mais popular que a original devemos manter a antiga por uma questão de pesquisa e respeito a primeira. Quem ama as letras, a poesia e o significado das palavras sabe que as palavras têm vida e da mesma forma que nós seres viventes morremos, mas não perdemos o nosso nome.
ResponderExcluirSomente uma breve observação ao comentário da Glória em relação ao Livro do Miguel Torga. Não tenho intimidade com a Glória, mas, devo adverti-la: Literatura Portuguesa é totalmente diferente de Literatura Brasileira. Apesar de recentemente ter havido o Tratado para aproximar a ortografia dos países que usam a Língua Portuguesa ainda existe muita palavra que é específica da formação e cultura portuguesa e outras específicas da formação e cultura brasileira. E essa situação não se resolve com um simples tratado, porque Portugal já é milenar. Você não pode ler um Livro escrito por um português e compreender tudo o que está escrito, claro, para isso você terá em mãos um dicionário com o português de Portugal. Perdão pela observação, mas vivo respondendo essas questões para alunos.
Balestra parabéns pelo espírito guardião e a vontade de manter viva a nossa cultura e Língua, respeitando, claro, as constantes mudanças e inovações de palavras que são naturais de um mundo globalizado.
Grande abraço e continue firme na batalha pela intelectualidade.
do amigo David Lima
Falou tudo Dr. Balestra!
ResponderExcluir\Tens razão.. já q indicaram o mesmo, q seja tao rico qto o Aureliao, essa família é danada mesmo, minha bisavó tinha a honra de ter o sobrenome de Hollanda, sou chique né,kkkkk
ResponderExcluiraff, eu quero fazer mestrado em antropologia, pq minha família é muito gde, existem muitos sobrenomes, e eu fico a descobrir os nomes de meus antepassados e fico encantada e pesquiso a fonte e tal,kkkk, sou maluca, e vc adora estudar palavras, confesso q tb tenho dicionários sempre perto, mas longe de ser uma Balestra, vc é meu mestre MOR!! AH, gosto da antropologia social tb,
abço mestre, mande notícias!