“QUANDO AS SOMBRAS AMEAÇAM O CAMINHO, A LUZ É MAIS PRECIOSA E MAIS PURA."

(Espírito Emmanuel, in "Paulo e Estêvão", romance por ele ditado a Chico Xavier)

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segunda-feira, 17 de maio de 2010

O MOLEQUE SACI DO JARDIM




¿’Ocê s’lembra? O três por quatro do chão d’arenito, soqueado pelo tempo, o terreal dos suspensos canteirinhos abarcados por velhas tábuas estacadas, gordos d’adubos: palha d’café, serragem fina, estrumagem d’cavalos nossos e vencidas folhas dali. A casa em madeira, o amplo ideal dos cômodos, o sofá verd’oliva, poltronas, e o soalhado brilhos’encerado da sala e quartos, os dois. Toda d’perobas. Das d’quando ela reinava matas da região. A tinta a óleo em claro azul, agarrada nas vertitábuas, fasquias e pregos, surda guardava a ida história deles.

A varanda co’as guardas d'proteção, em grossos xis d’madeira bem angulados, encaixados a capricho, e o acesso d’escadinha de tábuas contendo a cavada terr’embaixo. Dois degraus e pronto! Mas a santa-bárbara punha umbrática aquel’entrada. No jardim qu’ladeava a varanda, rodeadas por samambaias, banana-de-macaco, begônias, antúrios e copos-de-leite, Suas roseiras brancas e vermelhas gravidavam abotoamentos. Em calmo esperavam os desabrochos. Da rua em frente, a Souza Naves, ainda nua d’pixe e pedras, o pó teimava adentrar os planos d’Seus móveis, a bela cristaleira, a q’um dia quebrei o vidro em correria a toa; desatos d’moleque...

Chuvaradas vinham. Relâmpagos, rufados d’trovões e clarões d’noite. E iam; vergonha do sol chegando, d’dia. Tempo que a terra do jardim, d’regra, pubava os adubos de Suas plantas , as roseiras, as brancas e as vermelhas que Você Sempre gostou, e as zelou.

Uma noite, antes d’meia, chegando d’volta das casas d’amiguinhos vizinhos, na varanda senti um cheiro esquisito, semelhando o d’pau podre, d'fedorenta coisa inidentificável por meu tão jovem olfato. ¿Bicho morto? Eu olhava. Olhava. Não via nada. Aí m’arrepiava. ...e o bendito cheiro recendendo ruim pra mim. Era dali, certeza!, como que pato é bicho d’penas e águas. Procurar? Não mesmo! O fio da colun’arrepiada m’travava pés.

Certo inda d’dia, em tardezinha d’sol fraco, bebi um balde d’coragem, e fu’investigar o Seu Jardim, aquele cheiro feio. Dei d’cara: umas coisinhas brancas, feito camisas rendadas de lampião. Lá’stavam, em pé, brotando do chão dos úmidos canteiros, perto das já floridas roseiras, exalantes – pedoe-me, fragrância que nunca gostei é d’rosas; doridas memórias. –, e das bananas-de-macaco.

Com um galhinho avulso catado, coração em boca, toquei num. Um pedacinho garrou na ponta. Aproximei do naso... ¡Santodeus! D’tão forte, amargou-m’corp’abaixo, todo! Tossi. Lembrei d’Você, qu’em sabedoria, soubesse o que aquilo seria. N’outro dia, Você, sentada comigo na escadinha da varanda, lh’indaguei. Com Sua serenidade, respondeu-me:

– ... é do cachimbinho do Moleque Saci, que vem fumar no jardim d’noite, enquanto você demora muito pra vir dormir, e deix’a Mamãe preocupada...

Aquil’ouvi e quase morri! Olha, aquele cheiro d’pau podre, cheiro d’saci, d’rosas, tudo esquisitando um misturado d’odores desgostáveis, ainda moram meu nariz, assim como meu coração hoje retumba d’imensa nostalgia e alegria d'lembrança por’aquele santo enganamentozinho, tão puro, pero sábio, que Você m’aplicou, viu?

Hoje ’tá fazendo quatro anos que Você atendeus a’O Chamado naquele dezessete d'maio, em hospital... Não tenho mais medo d’Moleque Saci, mas ouço muito Tua voz em meus sonhos, viu? ...até o cheiro d’saci daquele Seu tão simples Jardim e nós lá, d’novo, sentados, sinto... A Su’abênça!



Imagem: by web
Crônica de JRB

10 comentários:

  1. Cara..muita suadade..lembrei tb de minha mãezinha que tb ja se foi..Obrigado e abraço..só falta agora as lembranças do velho rio 14!!Evaldo Dirceu Balestra e EU!!!





    Léperus!!

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  2. Ai...........
    Que triste, que lindo.......
    LEmbrei da casa no sítio do meu avó..... devia ter uns 5 anos e íamos pelos gramados afora procurar o ninho das galinhas!
    rs

    Os cheiros, os gostos, as imagens da nossa infancia dão sempre esta pontadinha no peito....
    so sentindo para saber!

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  3. Olá José

    Venho informar que o Blog da Berenice está desativado por tempo indeterminado. Agradeço a você as suas visitas, seus comentários carinhosos e nossa parceria. Meu email continuará disponível para qualquer contato, fique à vontade.

    Visitarei sempre este seu espaço tão especial.

    "É na mudança que as coisas acham repouso." - Heráclito

    Um grande abraço,
    Berenice

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  4. coisa mais linda!!!ameiii,lembrei de tantas coisas,o sitio q meu tio tinha q eu adorava ir tinha uma casa assim, com essas cercas bonitas na varanda, depois minha ex sogra comprou e eu fiquei feliz em reviver a infancia no mesmo sitio, lembrei do sitio do meu avô, do outro tio,tanta coisa boa, da chuva...coisa de infancia boa...q infancia linda né Balestra, sua maezinha com certeza no céu, mora num lugar tao lindo qto vcs tinham aqui...vc está nos meus links logo no começo do meu blog,lugar especial!!bj na alma!!ótima quintaaaaa

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  5. Quanta saudade amigo. Foi como se eu violtasse ao passado à minha infância e aos entes queridos que faziam parte da minha vida e se foram...
    Um abraço e bom fim de semana

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  6. QUERIDO AMIGO ROBERTO... O MEU CORAÇÃO BATEU LONGAMENTE, AO LER O TEU SUBLIME TEXTO...!
    MAMÃE ELVIRA, NESSE FATÍCADO DIA " 17 " DEIXOU-TE SÓZINHO, APARENTEMENTE...!
    PORQUE LÁ DO ALTO, ELA CONTINUA A OLHAR, PELO MOLEQUE SACI, QUE MORA EM NOSSOS CORAÇÕES... ABRAÇOS DE SAUDADE,
    BJS

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  7. "Para sempre é muito tempo.
    O tempo não pára!
    Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo!"

    Mário Quintana

    Bjos "saudosos"

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  8. Minha homenagem para você, caro mestre Balestra: http://odiario.com/blogs/wilameprado/2010/05/30/a-prosa-mais-que-poetica-de-a-balestra-eu-recomendo/

    Um abraço.

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