“QUANDO AS SOMBRAS AMEAÇAM O CAMINHO, A LUZ É MAIS PRECIOSA E MAIS PURA."

(Espírito Emmanuel, in "Paulo e Estêvão", romance por ele ditado a Chico Xavier)

Meus Amigos e blogAmigos!

sábado, 31 de dezembro de 2011

É. 2011... 2012... A DANÇA DA VIDA!


         É... Hoje o último dia d’ 2011! E nem parece. Inda m’ lembro d’ com’estava meu espírito na passagem d’ 2010 pra 2011, numa praia de São Francisco do Sul.

Olho meu limoeiro tahiti; continua florindo e frutificando. Divino espetáculo o ano todo.

As flores lilases do pingo-de-ouro estão d’ volta na tela da janela do meu quarto; brincos especiais,  penduradinhos. As caídas dão tom especial ao império do gramado. Obras do Pintor-Mor!

Ainda não fiquei amigo do mouse no notebook; sigo agarrado ao outro, acessório. Se há ponte, pra quê rio a nado? Só s’ molha quem não olha.   

Ao meu chamado pardais e pombas seguem vindo ao quintal d’ casa; os farelinhos e pães esmigalhados que lhes dou dia alimentam meus olhos e minh’alma. É a paga pelas sinfonias de cantos d’ paz que m’ entregam todos os dias do ano. Doamos-nos.

Os estampidos dos rojões d’alegria humana da data incomodam ouvidos e corações da Guida e do Bigode; contam comigo, eu sei! Se em mim tem “um deus”, eu os tenho por “anjos calados” que m’ lembram meus pais, Don’Elvira e Sontonho, as saudades, os seus gestos nos chamados d’então.

Ontem à noite reuni amigos mais próximos num “churrasco do Bolinha”; as piadas d’ sempre, muita risada, fotografias e as chacotas de praxe por mais este ano juntos. Amigos podem ser poucos, mas quem não os tem costuma ficar rouco... certas horas inglórias da vida.

2012 já está dando o ar da graça. Que venh'então!

Em sua mala novos caminhos, esperanças, mudanças. É democrático; traz isso pra todos. É bom!

Noto que todo ano novo é assim: discretamente justo; esparrama aos nossos olhos muita alegria e sonhos, mas nós não resistimos ao impulso de autoentremearmos algumas pedras, certos espinhos, nessa nossa mania de (des-)temperarmos a vida. Depois vem as lições do quão vaidosos fomos, apesar da insignificância estampada no prata dos espelhos, que nunca aprendemos.

Finzinho de dezembro, e Caetano ainda canta no rádio sem-lenço-e-sem-documento. Tem razão o poeta: Alegria, Alegria! Lenços são pra lágrimas e documentos pra provar condição. Lágrimas são  vozes d’alma, e os documentos d’ nada lhes servem; o estado da alma é e não está.

O sol de verão de hoje está encoberto. Por aqui nuvens choram sobre os verdes e os vivos, para as sementes entrementes, das paisagens dormentes que acordam sempre, a cada dia, pra noss’alegria.

Uma pontinha de tristeza; m’lembro que um casal d’amigos estará indo embora daqui para o litoral norte do estado de São Paulo; já nos despedimos no dia 17. Não m’acostumo com despedidas, muito menos d’amigos...

É. 2011... 2012... Outro disco tocará na vitrola encantada da vid’amanhã. 

A ela vida só peço que no ano vindouro não me deixe esquecer de sentir resignadamente as dores alheias enquanto sigo aprendendo a pensar abnegadamente formas de estender-lhes minhas mãos, sem no entanto sem injusto com ninguém.



FELIZ ANO NOVO,

E
PARA TODOS... 
SAÚDE!




Imagem 1: by josé roberto balestra
Imagem 2: by web


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

OS ALGOZES DA ONCOLOGIA




Clique no título:  *







Em 2012 continua em cartaz:
“OS ALGOZES DA ONCOLOGIA”

Às vésperas do Natal meu torrão natal recebeu - em plena semana de seu aniversário - um belo “presente” da ouvidoria do Estado ao meu colega de ofício, Doutor Waldur Trentini, embalado em ordinário papel de pão...

O show “Os Algozes Oncológicos”, em (des-)cartaz em Paranavaí há tantos anos, seguirá no próximo anos sendo protagonizado por atores com mandato e burocratas travestidos em assistentes de produção, com a mediocridade de sempre; pachorrentos, mesquinhamente vaidosos, com corações petrificados, isentos de essência.

Creem-na uma comédia das de picadeiro. Mas nada há de engraçado; é um drama, escrito com sangue, suor e o fim dos sonhos de dezenas de vidas de ignotos cidadãos comuns impotentes ao (des-)espetáculo compulsório. Aliás, como foi a história da fundação da cidade, sempre com muita violência e vidas perdidas.

Para os demais - os bem aquinhoado$ - há o bálsamo do Hospital Sírio Libanês em São Paulo, cuja equipe oncológica é dirigida pelo ilustre conterrâneo paranavaiense, Dr. Paulo Marcelo Hoff, certamente sabedor da “peça em cartaz” em Paranavaí.
   
Os atores a que me refiro tem a visão turvada e ouvidos moucos sujos até mesmo para a Constituição Federal que, sem necessidade de interpretação, é objetiva em seu artigo 6º quando ao DIREITO À SAÚDE, à ASSISTÊNCIA AOS DESAMPARADOS, ao respeito À DIGNIDADE. Tudo isso letra morta para os tais atores da horrenda peça.

Agora fico indignado ao ver que, a modo de justificar o eternizado atraso na apreciação de tão séria e inafastável questão, A ONCOLOGIA PÚBLICA, a ouvidoria estadual da saúde vem com a arenga pífia e vaga de que “O PARANÁ ESTA PASSANDO POR UM MOMENTO DE REAVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ONCOLOGIA.”

Ora, tenham a paciência! Câncer não espera “reavaliação” por barnabés, sobretudo  dos modorrentos dos governos estadual e federal! O bom e responsável administrador não aceita que um serviço público de saúde como é a oncologia seja obstado por burocracia.

Vivemos sob um ordenamento legal, é claro. Porém nem por isso se pode esquecer que a vida tem primazia. Afinal, qual o papel dos burocratas e dos políticos com mandatos, senão que a estes, além das proposições, também cabe o dever de exigirem resultados àqueles?

Infelizmente virou regra tupiniquim; à falta de vontade política para certa questão, se criam cortinas de fumaça consubstanciadas em comissões, “grupos” técnicos, etc.

É exatamente isso que “leio” - em parte - na mal escrita nota de resposta ao Doutor Waldur:

“ A HABILITAÇÃO DO SERVIÇO DE ONCOLOGIA EM PARANAVAÍ ESTAVA EM NOME DO HOSPITAL REGIONAL DO NOROESTE, SENDO QUE A ORIENTAÇÃO (¿¿¿??!!!) É PARA QUE O NOVO PROCESSO SEJA INSTRUÍDO EM NOME DO HOSPITAL SANTA CASA DE PARANAVAÍ, APÓS A DEFINIÇÃO DAS NOVAS DIRETRIZES DA ATENÇÃO Á ONCOLOGIA PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE.”

Então indago aos tais atores e à “produção” dessa maldita “peça”:

1)- por qual razão o pedido de habilitação para oncologia corria junto aos órgãos do governo em nome do HOSPITAL REGIONAL DO NOROESTE, inaugurado em 2006, enquanto que a Clínica Oncológica privada na cidade, PRONTINHA-DA-SILVA também há (menos) anos, tem o mesmo pedido de habilitação em trâmite nos ditos órgãos estatais?

Isso me leva a deduzir que, estando “sepultado” o HRN quanto à especialidade em oncologia, foi com o advento da Clínica Oncológica da Dra. Gabriela Josepetti na cidade  que algum cotovelo lobista se esquentou demais, a ponto de partir para o confronto velado. Ou não? 

Ora, vejam: com um simples convênio o erário pode evitar o dispêndio de parte dos R$7 ou R$8 milhões – afirmados pelo Secretário de Saúde, segundo o DN de 11.12.11 - em investimentos de equipamentos para o outro elefante branco da cidade, o HOSPITAL NOROESTE, de 1990, na medida em que equipamentos para ONCOLOGIA já estão disponíveis na esfera privada. Afinal, é público que o atual governo estadual tem manifestado intenções em terceirizar os serviços de saúde no Estado. Estou errado?

2)- De qual dos “atores” partiu a tal “ORIENTAÇÃO” para que se mude o processo, começando nova via sacra procedimental em detrimento dos pacientes oncológicos da cidade e região, para que se habilite agora a SANTA CASA em oncologia, quando esta é uma ENTIDADE BENEFICENTE E SEM FINS LUCRATIVOS, e consabidamente sua administração – segundo a ampla imprensa da cidade e região – também vive de joelhos e pires na mão junto aos governos, clamando por falta de verbas?

Some-se a este fato a recém aventada incorporação do Hospital Regional e do Hospital Noroeste – este por um ano, sob contrato, um empreendimento privado que reclamará mais de R$6 ou R$7 milhões para sua obra física ser concluída, e que tem entre os seus maiores investidores a primeira dama – pela Santa Casa. Tudo isso está me parecendo megalômano demais para o caso de uma cidade cujos homens públicos com mandatos sequer conseguem resolver um entrave burocrático de habilitação oncológica...

Enfim, nessas perguntas (ainda) sem respostas, reside o meu ceticismo em relação à administração pública, certo de que, de fato, ela É E SEMPRE SERÁ ineficiente, porque gerida por efêmeros atores, incompetentes e insensíveis nem mesmo diante do padecimento físico dos de seu povo, que os mantém em seus dourados pedestais, mesmo ante contraprestações diminutas, fatos que sempre me lembram o final do filme “Paixão de Cristo”; o tempo passa, mas nunca muda. O manso de espírito termina sempre crucificado.  


* Artigo aqui publicado posteriormente em função da perda de seu arquivo no Blog do Joaquim de Paula, na coluna deste blogueiro, onde lá fora publicado originalmente.  JRB







domingo, 18 de dezembro de 2011

Sodade dessa nha terra, Cabo Verde...

CESÁRIA ÉVORA
a diva dos pés descalços 
que deixa este mundo com SODADE...




(Mindelo/Cabo Verde, 27.08.1941 — Mindelo, 17.12.2011)
...uma belíssima história

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Enleio ecológico...





Eram 23h44m do dia 24.07.2010. Finzinho de domingo.
S’dizendo sem sono, ela, ainda um toquinho de gente, de pijama, veio rodear-me à mesa da cozinha, onde eu estava absorto em meus escritos.

Pediu-me o bloco de rascunhos,
e aquele “livro de boi” para copiar as figuras.
Percebi que falara de “Sagarana”, de Guimarães Rosa,
recheado de belas ilustrações de Poty Lazarotto,
com bois e outros animais.

Ao ver o desenho acima, os vaqueiros, a vegetação, a montanha,
com o dedinho ela apontou para aquele ponto estranho, esguio, que quase varava todo o desenho de baixo a cima.

Ao ouvir de mim que era uma árvore seca,
de chofre a neta Giovanna, então com 3,5 anos,
controvertera-me:


– “...¿Como que a árvore fica de pé
quando a árvore não tem folha?...”


Enleado, não achei resposta até hoje...



Imagem: Ilustração de Poty, na 26ª ed. de Sagarana, parcial de p. 300 (e 301)
Livraria JOSÉ OLYMPIO Editora, Rio, 1982. 

domingo, 20 de novembro de 2011

O homem no lado de dentro olhando para fora...





Wot's... Uh The Deal


Heaven sent the promised land
Looks all right from where I stand
'Cause I'm the man on the outside looking in
Waiting on the first step
Show me where the key is kept
Point me down the right line
Because it's time
To let me in from the cold
Turn my lead into gold
'Cause there's a chill wind blowin' in my soul
And I think I'm growing old


Flash the readies
Wots..uh the deal?
Got to make it to the next meal
Try to keep up with the turning of the wheel
Mile after mile stone after stone
You turn to speak but you're alone

Million miles from home you're on your own
So let me in from the cold
Turn my lead into gold
'Cause there's a chill wind blowin' in my soul
And I think I'm growing old

Fire bright by candlelight and her by my side
And if she prefers we never stir again
Someone sent the promised land
And I grabbed it with both hands
Now I'm the man on the inside looking out
Hear me shout
Come on in
What's the news? where you been?
'Cause there's no wind left in my soul
And I've grown old

Qual é ... Hã, O Acordo


O Céu mandou a terra prometida
Tudo parece bem de onde eu estou
Porque eu sou o homem no lado de fora olhando para dentro
Esperando no primeiro degrau




Mostre-me onde a chave é guardada
Aponte-me o caminho certo
Porque é hora
De me deixar sair do frio e entrar
Transforme o meu chumbo em ouro
Porque há um vento gelado soprando na minha alma
E eu acho que eu estou ficando mais velho


Mostre-me a grana
Qual é ...hã, o acordo?
Tenho que aprontar para a próxima refeição
Tente acompanhar o giro da roda
Milha após milha pedra após pedra
Você se vira para falar mas você está sozinho

A milhões de milhas de casa você está na sua
Então me deixar sair do frio e entrar
Transforme o meu chumbo em ouro
Porque há um vento gelado soprando na minha alma
E eu acho que eu estou ficando mais velho


O brilho do fogo à luz de velas com ela ao meu lado
Se ela quiser a nós nunca mais nos movemos
Alguém mandou a terra prometida
Bem eu a agarrei com as duas mãos
Agora eu sou o homem no lado de dentro olhando para fora

Ouça-me gritar
Venha para dentro
Quais as novas? Onde você esteve?
Porque não há mais vento na minha alma
E eu fiquei mais velho










quinta-feira, 3 de novembro de 2011

AS ÁGUAS DO MENINO MEU


"Sonhei com um rio levando as águas pra trás
Indo devolvê-las à sua nascente.
Era o rio chamado Saudade
que volt'e-meia m' faz
acordar assim;
no menino meu de antigamente..."      
(JRB)



terça-feira, 25 de outubro de 2011

HOJE, MEUS CINCO ANOS!




Grande é meu júbilo neste dia
Iluminado por demais está o meu céu
Olho o sol brilhando com mais energia
Vejo a Mão divina no pequeno troféu
A dádiva que a mim veio como esperança
Novo tom de aliança em pincel e aquarela
No sublime amor que emana dessa criança
Alegria, paz, e muitos anos de vida para ela!



São os votos versejados do vovô Beto para a princesa Giovanna, neta tão bela!



Fotografia: a neta Giovanna, domingo (24.10), depois de sua linda festa, 
vestida de Branca de Neve, já cabelereira com o presente ganho. 
by acervo pessoal de josé roberto balestra

sábado, 15 de outubro de 2011

O PROGRESSO ANCORA EM PIPEIRAS DE SANTANA


     Pela cara mal lavrada do sujeito, cachimbo no canto da boca e pasta debaixo do braço viram logo que era cobrador do fisco. Reberaldo Carijó saiu em pé de paina e foi botar o trombone na rua:


– Tem cobrador de impostos na praça. Vi quando retirou da maleta um ferrinho contaminado de dentes, coisa de lascar a popa do povinho que não puder arcar com a responsabilidade das pagas. É bom avisar o Major Nequinho Rosa. Ninguém para lidar com o povo do governo como Nequinho Rosa.

Em pronto momento, por um moleque de recados, Nequinho foi avisado. Pelo que já desceu dos confortos de sua invernada soltando azeites. Mais armado do que ele nem uma guerra. Hospedou sua vasta pessoa no Hotel das Famílias. E foi assim, deitado na cama, de botas e esporas, que mandou chamar o cobrador de impostos:

– Quero ter um particular com esse sujeitinho.

Meio murcho, adernado sobre a pasta negra, chegou para ver o Major Nequinho Rosa refestelado na cama e de charuto na boca. Quis tomar cadeira no que foi impedido pelo dedão de palmeira do major:

– Em minhas presenças ninguém senta o rabo para falar. É de pé, sujeitinho! De pé!

Intimou ele que o homenzinho abrisse a pasta de modo a desembuchar de sua entranha o tal ferrinho de marcar gente e mais o bolão de multas recaídas no cangote do educado povo de Pipeiras de Santana:

– Abra essa desgraça, esse ninho de lacraia.

O sujeitinho abriu. E da pasta preta, em lugar de arrogantes papéis do governo e ferrinhos de carimbar popa de cristão, saiu um derrame de giletes. O homem era caixeiro-viajante.

Os aparelhos de fazer barba davam entrada, pela primeira vez, na brava e progressista cidade de Pipeiras de Santana...


*******


Fonte: conto by JOSÉ CÂNDIDO DE CARVALHO (Campos dos Goitacazes, 05.08.1914 – Niterói, lº.08.1989), extraída do seu livro “Um ninho de mafagafes cheio de mafagafinhos” – Livraria José Olympio Editora – Rio – 1972, pp. 48-9  
Escritor contista e romancista, advogado e jornalista, sua obra mais conhecida é o romance “O Coronel e o Lobisomem” (1965), vencedor dos Prêmios: Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras; Luisa Cláudio de Sousa, do Pen Club do Brasil.

sábado, 8 de outubro de 2011

Sarcide e os cobres dos dentes


OS COBRES DOS DENTES



1962 i’além do mei’-pro-fim. Inda longe do corcovar d’anciania, em quarentanos. Certa paixão desilusa, insucedidos negócios padeirantes em clã-parceria outrora no d’sócio vinham governando doravante vida sua. Pescador-charqueador, coureiro-caçador; virara. Vivendo. Foi. Num só-com-deus-e-eu, sem estofo capitalístico. Ele: Sarcide.

Ribeirinho, sobtelhava lonas, poucas. Palha-d’coco choçados, muitas. Vivia. Ínfimos apetrechos pra d’cozer. Idem do d’vestir, d’calçar e s’lavar. A d’dois-canos-longos, encartuchada. Um ebriático garrafão sempre rolhado; cinco litros pra sarar solidão nos rios. Eremiticamente. Vivia; salvante o esturrar da onça vizinha. Qu’ouvia, mas desvia.

Era manhã, o sol no seu inda-durmo, Sarcide s’ despertou sob lonamente. À rudesconfortável tarimba sentado: orou às almas, fiel. Regou faces d’olhos-azuis. Alinhou entrededos lisos cabelos seus. Fito dilucular rosicler: redes, espinhéis, e a sondá.

Sarcide saiu. Em volt’olhou. Adiante de si, premido em barrancosa parte, despenediado, o sempre-vivaz Ivinhema cobreava desmesurado aos baixos-montes-pés, chuando abstruso e brumoso. Devia ter cachimbado a noite toda; ainda baforava aquel’hora, ocultando Espadinha, seu bote.

Eis que. Em cautelos passos chinelados ombreando um remo-de-pinho e à mão a dois-canos, o bornal noutr’ombro, Sarcide se pôs à trilha que torcia o barrancado pr’água. Desceu. O Espadinha. Aguou os chinelos. Recalçou. Lanternando faroletado, remando foi ter visita aos postos anzóis d’espinhéis, rede de malha-oito, feiticeira, – que a Polícia Florestal sempre procura pra recolher apreendida – e às sondás, em-longe e estreitado paraná, sob avelhantada figueira, árvore de beira.

Apoitando o bote, Sarcide principiou inspeção pela sondá que barulhava esquisito, rabeada, deliciosa d’ouvir.
– Espinhél e a rede vejo depois. O que ’tá pego tá pego.

Cuidadoso toque com o espalmar do remo no esquisito rumoroso, e eis um som duro subindo vibrando no roliço do cabo do remo, até a mão.
– Êita. .. pêxe num é! S’ for, largo a pinga, e d’oje em diante só como jiló... Trêim rúim dimais.

Inopinada nova rabeada aparafusada, veio, e à seca-roupa respingando-s’lh’. Sarcide faroletou:

– Do-papo-amarelo! Jacaré briguento!! Num falei que pêxe num era?...Cumê minha isca, hem? Agora eu é que vô t’. Pra si só, disse Sarcide rindo. Ele, dele.

Içando a cordinha da sondá no assento do bote, pisando-a c’um pé, Sarcide fez o bicho pescoçar fora d’água pra um bom-dia-sô!: um tiro-d’frente no mole do papo e fim-d’festa do cascaburrento de bocaça, e sono-eterno no fundo do bote, sob pés.

Saldo da visitágua: um pintado, cinco corimbatás, uma arraia ferroenta na rede d’-nove. A malha. Dois surubins-pintados e um pacu prateado nos espinhéis. Demais iscas; comidas, sem.
– Tá bão, meu Senhor! Jacaré de trinta quilos dá d’carne vinte... mais a dentaria. A peixarada perfaz o faltante. ’Tá é bão. Vou reiscar com a carne d’arraia tudo de novo. E já! Ô’ivinhemão!

Parara de pitar o rio. D’ volta à casa, d’lona, sol-na-cara, num zum Sarcide eviscerou e charqueou a peixama. Foi ao do-papo-amarelo. Desuniu a cabeça, estirou o salgado cascouro num xis de lânguidas varas. Com chave-de-fenda martelada, faxou um furo na queixada de ferro do rabudo. – Boca-dura, sô! Fincou uma estaca barrancada, beira d’água, lh’amarrando a cachola do jacaré, limpa de couro e carnes. Pinchou n’água do Ivinhema, às piranhas faxineiras; tiraria a carniceira dentaria do-tal. Empós.

Sol d’ mei’dia-e-meia, bife de jacaré, arroz macho, oleoso alhado. Sarcide  deu ebriadas talagadas. Uns toscanejares. Longo cochilado em rude tarimba de fofas aniagens. Sono. Justafluvial sinfonia maestrada pelo canto espantado do quero-quero em sob um gavionar espreitante. Quatr’e-meia. Tardosa. Talagadica, uma. Redespertável. Encanecad’o café-d’mariquinha. Ao terreiro. Sarcide tud’olhava. Só.

E o Ivinhema, sempre outro, passando, chuando peren’e viajante. Um súbito chap de peixe puladiço n’água ali, acolá e mais pra lá. A paz das estrelas e o esturrar da longe-onça. A nov’aurora. Os passos dela no terreiro, marcados. Estiver’ali. Misteriosa para Sarcide, desvira. D'novo, 'tra vez.

O recolher e o afazer co'a cabeça do bicho, mergulhada. Os dele dentes. Eis: com a boca cheia da atada cordinha, próxima da estaca, uma sucuri de palmo-e-meio d’grosso, a engolira. Tod’inteira; s’amarrara no por-dentro seu. Do d’fora s’ via nela o formato cacholado e barrigado do que antes um de-papo-amarelo fora.

– Êita, sô! Duas numa?!! Vô puxá a corda e a sucurona vem d’ arrasto. Depois ensaco e levo pro viveiro d’Antonio Matias Sergipano, pr’ele vendê o couro pra nóis dois.

Pensamento inocente d’ Sarcide: no ao-puxar da cordinha o bicho cinzento-esverdeado, quas’oliva, foi lento tratando d’ desengolir a dura cachola, gosmentamente. Até que. Saiu saída, na cordinha. Ela sucuri s’foi s’ausentando, indo esbarrancando, coleando sucurescafedente como sói d’ser, e enriou de novo. Sumida.

E Sarcide: – Burro véio, sô! Eu sô... Tem nada não. Ficô a cabeça do jacaré qu’eu queria, e ela foi vortá pro seu ofício... Deus-a-olhe. Tudo carece de ter e ser.

Mundificada a cabeça a-corda desembuchada, Sarcide extraiu as dezenas de remontados aligatorídeos dentes.

Passad’uns três e poucos trinta-dias, noutro certo dia, Sarcide levou o denterio caimão pra a cidade. Pensou, pr’uns sobrinhos - dois; um Mais-Novo, um Mais-Velho – vender aqueles dentes de jacaré pra raizeiros feirantes. Na corrutela; Surucuá.

O Mais-Novo já lá, à feira foi, e perguntava mostrando à mão:
– Quer comprar dente-de-jacaré, moço?
E reiterado ouvia, biouvia e triouvia:
– Sai daqui moleque! Não mexo co’essas cois’esquisitas...
O Mais-Velho só via, assistido. Às vezes ria.

Foi a semana. Ida. Veio a outra. Feirando o Mais-Velho, indagava barraca-em-barraca:
– O senhor tem dente-de-jacaré pra vender?
– Num tenho, moço.
– O senhor tem dente...
– Num...
– O senhor tem...

Duas-meia-hora feir’afora: o Mais-Novo, raizeiramente, d’ novo:
– Compra dente-de-jacaré? ... Dois-por-cinco...
– Pra quê serve isso, menino?
– P'a mãe furar e fazer um colarzinho pra pescoço de criança; aí nasce dentinhos sãos, fortes, e num deixa dar dor-de-dente nunca... Simpati’antiga, moço. Sabia? É batata!

Outros raizeiros. Vindo, viam. A conversa do Mais-Novo. E o povo’lhando. O fundo da sacolinha. Nem o cheiro. Os cobres no bolso do Mais-Novo. Tilintaram.

No em-casa, o Tio, o Mais-Novo, e o Mais-Velho:
– ... venderam? E os cobres? A bufunfa, o dinheiro da venda?
– Ara, tio, nós dois já dividimos.
– E a minha parte?, cadê?
– Num sei... cumigo num ’tá. Fala cu'ele aí qu' é Mais-Velho.

Sarcide foi pro quintal, olhou pro céu, pras nuvens. Ficou rindo-se de si por dentro, calado, da marosca ensobrinhada. E cacholou consigo mesmo, mineiramente:

– É... Isso é praga daquele papo-amarelo. Quá sô, tem besta mais não... Perdi a cabeça, os dentes e o couro da sucura. Ô sina!  E d’novo eu no prijuízo. Sempre! Quá, num careço d’mais parceria nessa vida... nem noutra! – Rerriu-se. Só. Na lona, d’novo. Ele, Sarcide.
– ................................................


-o-o-o-o-


Comentário d'A BALESTRA:

Este conto, escrito no início de 2008, foi inspirado em meu saudoso tio Alcides Balestra, sulmineiro monte-santense, padeiro. Dobrado às circunstâncias repentemente se viu pescador-caçador. O Rio Paraná foi sua paixão. Conheceu outros mil rios e matas. Tive a oportunidade e o prazer de ler este conto pra ele, que riu um bocado num fim de dia, com uma (segunda) latinha de cerveja à mão (a pinga, seu quebra-gelo, ele já houvera tomado pra abrir o gogó).  

Tio Alcides, ou “Sarcide” - como eu o chamava carinhosamente -, hoje está completando três anos desde sua morte em 08.10.2008. Deixou-me muitas saudades, das belas viagens que fizemos juntos pelo interior do Paraná e Santa Catarina, das nossas conversas entusiasmadas, das copas mundiais que pela televisão assistíamos, vibrantes, dos natais, dos dias-de-ano... Tio Alcides foi um homem elegante.

Imagens 1 e 3: by arquivo pessoal de José Roberto Balestra
Imagem 2: by Atair - web

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DESDISSIMULAND'O VERO SORRISO



"Fazer o que seja necessário em nome da preservação dos princípios fundamentais que estruturam a civilização 
é a marca de um ser humano verdadeiramente adulto e capaz.

Quando um ser humano se convence de os princípios serem passíveis de negociação, o que sempre acontece em troca de vantagens pessoais imediatas, ele perde sumariamente o status de adulto capacitado
e passa a exercer suas funções de forma insana. 

Quando isso se transforma em regra geral, como é o caso da atualidade, 
o próprio equilíbrio dos mundos está em perigo,
e é nesse momento que o Altíssimo intervém.

Independentemente de acreditarem ou de se pensarem agnósticas, 
todas as pessoas que defendem visceralmente os princípios são espirituais e, inadvertida ou intencionalmente, lutam a favor do trabalho eterno do Altíssimo, em cujo corpo somos e existimos."





“Aproxime-se das pessoas severas 
e se distancie daquelas cheias de sorrisos. 
As primeiras parecem antipáticas porque são calejadas e independentes. 
As segundas são simpáticas porque na prática são hipócritas.” 


terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Centro do Universo

CRÔNICA DE UM OPERADO DE HEMORROIDAS !...

 

Ptolomeu em 150 d.C. falava que a terra era o centro do universo e que tudo girava em torno dela, foram precisos cerca de 1400 anos para esta teoria ser rebatida por Nicolau Copérnico provando para a humanidade que o Sol sim era o centro.


Eu, simplesmente eu, descobri em apenas três dias, após 56 anos, que ambos estavam redondamente enganados: o centro do universo é o cu.

Isso mesmo, o cu!
 
Operei de hemorroidas em caráter de urgência algumas semanas atrás.

No domingo à noitinha, o que eu achava que seria um singelo peidinho, quase me virou do avesso.


"É difícil, mas vamos ver se reverte", falou meu médico. Reverteu merda nenhuma, era mais fácil o Lula aceitar que sabia do mensalão do que aquela lazarenta bolinha (?) dar o toque de recolher.
 
Foram quase 2 horas de cirurgia e confesso não senti nadica de nada, nem se me enrabaram durante minha letargia!


Dois dias de hospital, passei bem embora tenham tentado me afogar com tanto soro que me aplicaram, foram litros e litros; recebi alta e fui repousar em casa.

Passados os efeitos anestésicos e analgésicos, vem a "primeira vez".


PUTA QUI PARIU!!! Parece que você tá cagando um croquete de figo da Índia, casca de abacaxi, concha de ostra e arame farpado. É um auto-flagelo.



Por uns três dias dói tanto que você não imagina uma coisinha tão pequena e com um nome tão reduzido (cu) possa doer tanto. O tamanho da dor não é proporcional ao tamanho do nome, neste caso, o cu deveria chamar dobrovosky, tegulcigalpa, nabucodonosor.


Passam pela cabeça soluções mágicas:  Usar um ventilador! Só se for daqueles túneis aerodinâmicos.

Gelo! Só se eu escorregar pelado por uma encosta do Monte Everest.

Esguichinho d'água! Tem que ser igual ao da Praça da Matriz, névoa seguida de jatos intercalados.
 
Descobri também que somos descendentes diretos do babuino, porque você fica andando como macaco e com o cu vermelho; qualquer tosse, movimento inesperado, virada mais brusca o cu dói, e como!


Para melhorar as "idas" à privada, recomenda-se dieta na base de fibras, foi o que fiz: comi cinco vassouras piaçaba, um tapete de sisal e sete metros de corda. Agora sei o sentido daquela frase: "quem tem medo de cagar não come!"


Perdi 4 quilos; 3,5 de gordura e 0,5 de cu.
 
Tudo valeu, agora já estou bem, cagando como manda o figurino, não preciso pensar para peidar, o cu ficou afinado em ré menor, uma beleza!
 

A foda é que usei Modess por 20 dias após a cirurgia e hoje to sentindo falta dele!