
... inda me lembro bem. Na copa sua
mesa quadrada envernizada, sempre com um pequeno vaso florido enfeitando-a. Lá, a cristaleira de
fundo espelhado dobrava copos, compoteiras e peças várias de lembranças dos
idos tempos teus, e sustentava o rádio que te alegrava, e a mim
também, trazendo o mundo inteiro pr’aquele pequeno universo nosso, mas imenso de amor.
... inda me lembro bem. Teu jeito leve
e delicado de caminhar, como se sobre nuvens teus pés de anjo sandaliado a
levassem pelas calçadas, atravessando ruas, quadras, dobrando esquinas, indo às
compras com rol simples do essencial. E mesmo assim nada nos faltava. Eram tempos fartos.
... inda me lembro bem, em tempos
mais recentes; o teu sorriso instantâneo quando me via chegando à sua casa, num
átimo ele abria teus braços em asas pra me envolver. Tuas gargalhadas ao final
daquelas coisas pilhéricas que a gente de quando em vez se falava e contava em
sigilo, que era pra ninguém ver. Ríamos de até chorar. À luz dos meus olhos sentimentos puros jorravam do teu coração por todos nós.
... depois tive de aprender;
o tempo d’antes que juntava a gente naquelas alegrias ainda de porvires, é o mesmo que
corrói o aço dos cascos dos navios e encarquilha a pele da gente, enquanto o
sol nascente viaja ao seu poente todo dia, pondo na vida tão bela magia da
passagem da gente durante esta eterna Viagem por aqui e para aqui.
A nossa antiga casa de madeira? Ah... Dia
desses fui revê-la; há tempos não existe mais. No vago do terreno murado me
surpreendi perguntando sozinho ¿onde terão ido e
o que terá sido daquelas tábuas e telhas que nos protegeram e testemunharam
anos e anos de nossas vidas? Onde estarão no Universo os latidos do Pingo, da
Tutuca, os gritos de “truco!” que papai e amigos da casa lá tanto deram? A casa de alvenaria
dos fundos ainda resiste, porém está muito mudada; nem lembra mais que um dia ali existiu
uma movimentada padaria, que pela manhã acordava repleta de delícias que papai e os padeiros faziam.
É. Tudo isso que agora lhe digo me
parece tão real e recente, como se não existisse um antigamente na vida da
gente. Mas o que aqui lhe digo não nasce num coração em tristeza nem de
nostalgias, mas da certeza de que a alegria mora eterna em cada pedra do castelo das nossas belas lembranças.
Hoje, Mãe, está completando oito
anos que naquela quarta-feira anoitecida teu espírito se libertava da
matéria que o Divino Pai Eterno lhe emprestara por quase oito décadas. A
saudade de Você ainda me é imensa, tal qual o orgulho de ter vindo de Você e a
alegria da divina permissão de haver podido estar ao teu lado por cinquenta e três
anos. A distância nunca tivera domínio entre nós, Você sabe do que falo, e muito menos o tem agora que
estamos em planos diferentes; tenho percebido que teu espírito em paz me vem em sonhos. Afinal,
como diz a canção, se “Nada nem ninguém engana o coração de mãe.”, ao filho que deste coração veio nunca cessará a gratidão.
Lembrando-me o quão Você gostava
de ler, guardar e escrever poesias, Mãe, hoje lhe dedico os versos a seguir,
que não são meus, são da alma do poeta Gibran Khalil Gibran.Porém, muito dizem
por mim neste instante, porque sou sim flecha de Teu arco!
Com tuas bênçãos
me despeço. Zuza
"Vossos filhos não são
vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
pois suas almas moram na mansão do amanhã,
que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos
por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os Arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os Arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria
pois assim como Ele ama a Flecha que voa,
ama também o Arco que permanece imóvel."
Imagem: by web
2. Ausência de beneficio econômico;
3. O prejuízo para o governo;
4. O prejuízo para a cidadania;
5. O prejuízo para a razão;
6. De novo o dinheiro;
7. De novo os ataques aos trabalhadores;
8. O perverso legado das condições de trabalho na Copa;
9. O atentado histórico à classe trabalhadora;
10. A culpabilização das vítimas;
11. O retrocesso social e humano da Copa (...)."